quinta-feira, 3 de maio de 2007

"Longe dos olhos, longe do coração"

Idosos são abandonados em asilos

André Albuquerque e Rafael Fernandes

Não são poucas as pessoas que já ouviram falar em asilos e casas de repouso e os vêem como lugares e situações distantes do seu cotidiano. Dificilmente visitaram algum e desconhecem como é a vida dos adeptos dessas instituições.
Contra essa tendência, existem voluntários que não tem parentes nessas casas asilares, mas praticam visitas solidárias. É o caso do administrador Ricardo Seije, 37, que costuma visitar asilos quinzenalmente. Segundo ele "as visitas motivam as pessoas a terem preocupação com os idosos, nos faz sentir úteis e indiretamente nos ajudam".

Entretanto, há velhinhos que sofrem maus tratos e abandono dos parentes, que são crimes previstos no Estatuto do Idoso, criado em 2003. A delegacia de Proteção ao Idoso, criada em 1992, recebe denúncias diariamente de crimes contra a terceira idade. As mais frequentes são de abandono material, maus tratos e apropriação indébita. "De vez em quando lesões corporais", diz Oscar Gomes, 66, delegado titular da delegacia do Idoso.
"Já sofri maus tratos. Já fui discriminada por ser velha e negra", conta Dona Durvalina, 95, aposentada que hoje vive no asilo "Casa dos Velhinhos de Ondina Lobo", porém afirma que gosta do lugar "apesar das outras senhoras terem ciúmes por eu ser muito extrovertida - conta ela com alegria. E comenta casos ocorridos no asilo de senhoras que já apanharam de filhos antes de ir para lá.

Em São Paulo, o número de instituições que cuidam de idosos é muito grande. E tem grande variação nos preços de suas mensalidades, como por exemplo, do hotel para idosos, com frigobar, sala de ginástica, salão de beleza e até cinema Sollar Ville Garaude, 5 estrelas, onde para manter um idoso são necessários no mínimo R$4.200,00 por mês. Em contraste, no asilo Abrigo Evangélico Desafio pela Fé, com apenas um salário mínimo, pode-se manter um velhinho com comodidade. Mas nada disso é válido, quando eles não tem a atenção da própria família.

Denise Paes, professora de Ética da Universidade Mackenzie, acredita que estamos em um país onde o idoso perdeu seu respeito, houve um processo de desintegração. Então não se agrega mais a figura do patriarca do avô, aquele ancestral que ainda pode ter o comando. Ressalta ainda que o idoso pode se tornar um incômodo para a sociedade e tem que ser descartado em algum lugar, assim, acaba ficando sem a atenção da família.

Algumas curiosidades

80% dos idosos do país recebem apenas um salário mínimo, segundo o sindicato dos aposentados

35% dos asilos são beneficentes ou filantrópicos, o restante tem fins lucrativos

Os asilos em São Paulo não tem estrutura para acolher bem pessoas idosas, segundo pesquisa feita pela enfermagem da Unifesp.